sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crianças não inventam casos de abuso sexual, diz educadora


Felipe Dalla Valle (CMPA)
Sempre que uma menina conta uma história de abuso sexual contra ela é porque este caso aconteceu de fato. A afirmação é da professora Marilu Menezes, pedagoga e mestre em Educação, que atua na Fundação Luterana de Diaconia (FLD) e trabalha com a temática do abuso sexual contra crianças e adolescentes em escolas de todo o país. “É importante acreditar sempre na criança que faz a denúncia”, disse Marilu, que participou na última segunda-feira (04/06) à noite, na Escola Municipal Emilio Meyer, bairro Medianeira (região Cruzeiro), da Jornada Municipal de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. O evento é promovido pela Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (Cedecondh) da Câmara Municipal de Porto Alegre.

Durante o debate sobre o assunto, o momento de emoção foi reservado ao depoimento espontâneo de uma jovem de 21 anos, que confessou publicamente ter sido vítima de abuso sexual quando tinha 5 anos de idade. Outras pessoas presentes também relataram terem tido conhecimento de casos de abuso sexual contra e apontaram as dificuldades para se denunciar os abusadores.

Para Marilu Menezes, a coragem das vítimas de abusos em falar sobre o problema é muito importante na medida em que ajuda a romper o silêncio sobre o assunto e encoraja as pessoas a denunciarem outros casos. Citando o recente episódio em que a apresentadora Xuxa Meneghel confessou, em entrevista a um programa de TV, ter sido vítima de abuso sexual na infância, Marilu observou que a primeira reação de boa parte do público foi a de julgar Xuxa pela exposição pública, sob a alegação de que ela queria ganhar espaço na mídia. “No dia seguinte à entrevista de Xuxa, no entanto, o tema do abuso sexual contra crianças e adolescentes estava sendo discutido em todo o país”, diz a professora. “Com esta atitude (falar sobre o abuso), a Xuxa pode mudar a sua própria história.”

Escolas

Marilu Menezes trabalhou na coordenação pedagógica com crianças vítimas de abuso sexual. Ela destaca a importância dos profissionais que trabalham com o tema mostrarem que é possível superar a violência. “O abuso sexual contra crianças e adolescentes é a violência mais silenciada no país. Não se tem ideia precisa do seu tamanho. Quanto mais informações as pessoas tiverem sobre o assunto, mais fácil de identificar os casos.”

Ela citou o exemplo de uma escola da Paraíba em que professores e alunos trabalham a temática do abuso sexual durante um mês inteiro. “Os professores foram desafiados a pensar em como falar sobre esse tema com crianças muito pequenas, de até 6 anos de idade. É preciso se avaliar se as escolas abrem espaço para que as crianças falem sobre o tema.”, disse Marilu.

O delegado de polícia Adalberto Mattos, que tem trabalhado com casos de violência contra a criança na Delegacia de Polícia para Crianças e Adolescentes (Deca), lembra que todas as crianças e adolescentes na faixa etária entre zero e 18 anos incompletos estão sob o resguardo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no Brasil. Ele ressalta a importância dos pais terem controle sobre o uso da Internet por parte das crianças e observou que, atualmente, a existência de arquivos de fotos com cenas de sexo explicito com crianças e adolescentes, em um computador de qualquer pessoa, pode ser suficiente para servir de prova contra o pedófilo ou abusador e configurar crime.

Desta forma, informa Mattos, também é considerado “estupro de vulnerável” o caso em que uma pessoa tiver relação sexual com uma criança menor de 14 anos. Ele ressalta que a legislação também protege os meninos vítimas de abuso sexual e alerta para a importância de se ter cuidado na divulgação de informações pessoais por meio das redes sociais ou em chats com pessoas estranhas na internet. “Nessas situações, o usuário pode liberar informações para um pedófilo ou um abusador.”

18 de Maio

Nascida em 2 de julho de 1964, em Vitória (ES), Aracelli Cabrera Sanches Crespo foi assassinada violentamente em 18 de maio de 1973, aos 8 anos de idade. Seu corpo foi encontrado somente seis dias depois, desfigurado e com marcas de abuso sexual. Vinte e sete anos depois, a data de sua morte foi transformada no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes pelo Congresso Nacional.

Na cidade de Serra (ES), vizinha à cidade de Vitória, a ausência de Aracelli foi notada pelo pai, quando a menina não voltou para casa depois da escola. O corpo da menina foi encontrado seis dias depois nos fundos do Hospital Infantil de Vitória (Hospital Jesus Menino). Os suspeitos do crime eram pessoas ligadas a duas famílias ricas do Espírito Santo e conhecidos na cidade como usuários de drogas que violentavam meninas. Apesar de serem os principais suspeitos e de haver testemunhas contra eles, os dois acusados jamais foram condenados pela morte da Aracelli. De acordo com o relato de José Louzeiro, autor do livro Aracelli, Meu Amor, o caso produziu 14 mortes, desde possíveis testemunhas até pessoas interessadas em desvendar o crime, que repercutiu em todo Brasil.

A ideia de se celebrar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes surgiu em 1998, quando cerca de 80 entidades públicas e privadas reuniram-se na Bahia. Desde a sanção da Lei N° 9.970, em 17 de maio de 2000, entidades que atuam em Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes promovem atividades em todo o país para conscientizar a sociedade e as autoridades sobre a gravidade dos crimes de violência sexual cometidos contra crianças e adolescentes.

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