sexta-feira, 15 de junho de 2012

Consulta popular: experiência canadense é apresentada na Câmara


Rodrigo Riegel Machado (Gabinete)
O cidadão deve acreditar que sua opinião poderá influenciar na tomada de decisão sobre projetos que impactam sua vida. Conforme Luc Doray (na foto com Toni), secretário-geral do Escritório de Consultas Públicas de Montreal, este é um item importante para haver a participação popular na construção das cidades. Dorey palestrou na tarde da última quarta-feira (13/06) no Auditório Ana Terra da Câmara Municipal de Porto Alegre, como parte da programação da XII Conferencia do Observatório Internacional de Democracia Participativa, e falou sobre Democracia e transformação urbana: o papel da consulta pública.

Ao relatar a experiência da cidade canadense, onde o Escritório de Consultas funciona há mais de 10 anos, Dorey afirmou que o cidadão tem o direito e o dever de influenciar no futuro da cidade. “Não é mais verdade que uma pessoa exerce sua influência apenas no momento do voto.” Contudo, ele disse ser necessário um lugar para a tomada de posição do público: “deve haver onde o cidadão mostre sua palavra e exprima suas idéias”. Dorey afirmou ainda, que, pelo observado ao longo dos últimos anos, a participação popular vem se tornando irreversível e não deve mudar.

O palestrante lembrou que alguns projetos se desenvolvem por muitos anos e, por isso, necessitam de consultas a cada nova etapa. “Se é feita apenas uma consulta no início, o cidadão fica sem espaço para exprimir suas idéias.” Salientou haver evolução nos projetos que precisam ser consideradas. “A consulta sistemática permite a reconstrução a partir dos cidadãos, que tem mais conhecimento do cotidiano onde está se desenvolvendo uma proposta.” Conforme destacou, uma câmara municipal deve conhecer o interesse geral demonstrado pela consulta pública.

Toda a consulta à população deve ter transparência, credibilidade e eficácia, conforme Dorey. “E, quem toma a decisão final deve se deixar influenciar”. Já a decisão final, como destacou, sempre é de responsabilidade dos eleitos. Mas, estes, precisam dizer claramente que estão abertos a opiniões durante o processo. “A contribuição do cidadão é de opinião. Porém, ele deve acreditar que sua palavra poderá influenciar, deve acreditar que há espaço para isso”. Explicou que em Montreal sempre é consultada a população que possa ser atingida por um novo projeto, desde um bairro à toda a cidade.

Escritório

Ao falar sobre a estrutura e funcionamento do Escritório de Consultas de Montreal, Dorey citou ser uma entidade neutra e independente cujos membros são nomeados por dois terços da câmara municipal. “Não são eleitos, não são servidores públicos, e não tem ligações ou atuação em partidos políticos”, salientou. Todos são submetidos a um Código de Ética Pública e a nomeação ocorre a partir de indicação que o presidente do Escritório faz ao Legislativo do município entre pessoas com destaque na comunidade. O Escritório tem como missão a consulta pública e, para isso, são obedecidas regras para garantir a credibilidade, transparência e eficácia do processo.

Em Montreal o processo de consulta, explicou Dorey, é precedido de ampla publicidade. Além disso são feitas audiências públicas de informação e visita aos locais submetidos ao estudo. A página eletrônica do Escritório, destacou ele, é importante ferramenta de divulgação e recebimento de opiniões e informações. Já as audiências públicas devem ser tantas quantas forem necessárias para ouvir e responder a todos os interessados. “É etapa chave para dar credibilidade ao processo.” Como salientou, as informações ajudam na aceitação e no nível de credibilidade de um projeto.

A fase final do processo, que pode durar entre quatro e cinco meses, é a formulação de relatório que apresenta as preocupações de quem participou da consulta. No relatório é feita uma análise das opiniões recebidas, e são também incluídas recomendações do Escritório. “Não se tomam decisões, apenas se fazem recomendação”, repetiu Dorey. O papel da consulta, como destacou, é de propor soluções: “isso é fundamental para que um Legislativo tome decisões certas, à luz da opinião do cidadão.” É importante que a câmara dê uma resposta oficial ao Escritório sobre o relatório apresentado. "O cidadão que saber se sua participação foi útil”, completou.

Na cidade canadense, como o secretário-geral citou, 75% dos projetos aprovados pelo Escritório, após a consulta popular, são adotados e executados pelo poder público. “Nós ajudamos a melhorar a qualidade de participação na cidade e assumimos um papel de conselheiro das instituições municipais”. Este órgão, contudo, disse Dorey, não surgiu de forma espontânea, mas por pressão de cidadãos. Lembrou ainda que o nível de participação aumentou com os anos. “É um modelo inovador que promove o encontro de opiniões divergentes e favorece soluções para questões contenciosas”, destacou. “Para que a consulta pública tenha sucesso, o processo deve se dar em clima de respeito mútuo”, finalizou.

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